04♦ Quatro de Moedas
Está tudo coisado! Coisamos tudo, pois hoje tudo vira coisa! Coisa, de tanto uso e necessidade, virou até verbo! Coisou mesmo... Que coisa, hein?
Na hora de comunicar, coisar tudo
ajuda até: como é o nome daquela coisa?
Aconteceu uma coisa hoje... Desculpe, a coisa coisou e acabei coisando!
Bem, às vezes tanta coisa junta complica e deixa a mensagem coisada mesmo!
Se coisar tanto pode complicar a
comunicação, imagina outras coisas! Pois de tanto coisar, paramos de coisar
coisa com coisas e passamos a coisar coisa com não-coisas também.
Putz, coisei
tudo mesmo, e agora?
Vamos descoisar!
Enquanto coisa era só para coisas
tudo bem; mas, contudo, entretanto, porém, todavia agora coisamos até o que não
é coisa alguma! A coisa se encheu de si e agora quer abranger substantivos além
dos concretos, a coisa mudou de figura...
Hoje sentimentos são coisas...
Pensamentos são coisas...
Pessoas são como coisas...
Relacionamentos são coisas...
Deuses são coisas... e, como disse
antes, coisou mesmo e está tudo coisado.
Respira aqui comigo; consegue
perceber o problema nessa coisa toda? Percebe que coisar tanto vai além de um
vocabulário preguiçoso?
Estamos coisando abstrações até...
Amor é coisa. Felicidade é coisa.
Sexo é coisa. Prazer é coisa. Espiritualidade, coisa. Dinheiro, coisa. A vida está
uma coisa só... Perdemos as dimensões das coisas. De tudo.
Coisar tudo não empobreceu apenas
nosso vocabulário, mas nos roubou o sentido, a simbologia, a sacralidade, a
riqueza, a pluralidade, a imaterialidade de nossa existência.
Respira aqui comigo mais uma vez e
veja como tem lidado com as coisas em sua vida. Veja também como tem lidado com
as não-coisas de sua vida.
Há semelhanças nessas relações? Visto
isto, perceba se tem coisado o amor. Perceba se tem coisado a felicidade, as
pessoas de sua vida, seus prazeres e todas as demais abstrações,
imaterialidades e afins.
Pois nem tudo são coisas. Portanto,
coloque as coisas no seu devido lugar! Descoisifique-se. É o conselho D’Quinta
pra hoje, pra semana e pra vida.
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