terça-feira, 29 de novembro de 2022

A linguagem da chuva

Busco aprender a linguagem da chuva...

Encontro-me no silêncio anterior a primeira gota. Aquele silêncio-estático-paralisado-sem vento antes do fluir do céu em líquido. Aquele silêncio das nuvens antes do riso e do choro que é chover.

Na verdade, essa linguagem da chuva é bem antiga e está esquecida até.

Busco na verdade me desaprender, para reaprendê-la – que é relembrar, na verdade, dessa linguagem ancestral. Uma ancestralidade perdida... Um tesouro, escondida nas ruínas do ser – este algo que já construímos destruído em aparências.

Assim busco me relembrar essa linguagem da chuva...

... para me comunicar em gotas e umedecer o céu, e depois cair para fertilizar a terra e abrandar o fogo.

... para voar na sintaxe sagrada. Cheirar os fonemas da água acariciando os grãos de chão.

... para encontrar os trovões dos meus sussurros e iluminar minha escuridão com os relâmpagos dos meus gritos.

Pois a linguagem da chuva tem o amor e a fúria, o silêncio e o som, o ser e o nada...

Pois a linguagem da chuva traz uma nuvem em cada pingo e cada pingo traz, em si, a semântica da inteireza de Deus.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Por que corres, criança? ­II

 

IX – O Eremita

Por que corres, criança? ­— é a pergunta que esse ancião te faz.

A pressa vem pela comparação. Você se compara ao outro, compara a sua vida com a do outro e se afoba...

Pois acredita que não tem o bastante ainda, não é tão bom quanto o outro ainda... Juntamente a isso, crê que tempo é dinheiro. E dinheiro não dá em árvore. E que é preciso correr, lutar, matar um leão por dia. Pois o tempo urge. E quem espera nunca alcança. E é preciso garantir o pão de cada dia com suor e sangue. E por aí vai.

Ufa!

Não há nada errado em correr. Mas já vi gente que na pressa de estar em movimento, nem sabia por que corria. Ou sequer sabia que estava correndo até. Nem sabia que havia outras opções de correr além.

Assim, quando correr, saiba porque está correndo; corra com sentido. Corra preenchido. E busque outras possibilidades. Abra-se a elas. E, se optar por correr, corra atento. Ou ande atento. Parou? Esteja parado e atento.

Lembre-se de seus porquês. E coloque atenção no como faz o que faz.

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Por que corres, criança? I

 

IX – O Eremita

Por que corres, criança? ­— é a pergunta que esse ancião te faz.

Não tenha tanta pressa de... Não tenha tanta pressa para... Aproveite o passo. Você já está em qual mesmo? O primeiro foi igual aos demais? O cansaço altera o seu passo; a firmeza, a intensidade, a vontade?

Atente-se a sua respiração enquanto caminha.

Perceba se está pisando direito. Perceba seu peso na sola dos pés. Está distribuído igualmente? Você pisa mais forte com lado esquerdo ou direito dos pés?

Você anda na ponta dos pés ou no fundo dos calcanhares?

Há calos em você? Há algum doendo agora? Se sim, é possível parar e cuidar disso?

É possível mudar de calçado? Ou tirá-los e caminhar descalço?

Já prestou atenção onde está caminhando agora? Olhe a paisagem.

Há árvores pelo caminho? Se sim, é possível conversar com elas?

Você não é do tipo de pessoa que conversa com árvores?  Está tudo bem se não for, mas já adianto que está perdendo diálogos incríveis!

(...)

As árvores te chamam para suas sombras.

Sai do sol! Desce do salto! Desafrouxa a gravata!

Pegue uma fruta, devore a polpa e lambuze-se.

Deite e tire um cochilo.

Enraíze-se numa sombra de árvore, para nutrir-se de chão e vegetação.

Sonhe, aproveite e.

Do chão, olhe as folhas no céu.

É preciso de boas raízes para boas ideias. É preciso de fundas raízes para novos ares. É preciso de profundezas para colher as primeiras gotas de chuva.

Sem grãos não se faz um céu e não se chega a azuis mais profundos.

Enraíze-se. Com as árvores. Aprenda.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Emanguessemos...

 

IX – O Eremita

Amadurecer... Olhe para os frutos... Os frutos verdes são mais duros, às vezes fazem mal até. Os maduros são mais macios, doces, caudalosos, apetitosos...

Mas foi tudo necessário. O verde com toda a sua dureza foi necessário. Tudo no passado teve o seu propósito.

Não adianta no hoje reclamar do quanto se foi um fruto cáustico. O passado existiu para que tivéssemos a chance de ser essa imaturidade corrosiva.

Sendo assim, olhar-se. Perceber-se. Admirar-se pelo que se é; pois daqui a pouco já não se é mais; este é o convite desse arcano para hoje.

Pois amanhã a manga madura será colhida e chupada. Ou estará apodrecendo no chão machucada, pisada e desinteressante, mas estará adubando a terra para que futuras mangas tenham uma oportunidade ainda assim.

Emanguessemos... Seja dissolvendo num chão ou em rios por queixos desconhecidos.

Saciamos a fome. Despertamos desejos e paixões. Nascemos, crescemos, vivemos... Que vida?

A proposta desse arcano? A melhor! Que tenhamos a melhor, que possamos ser a melhor manga possível.

Esse ancião convida para a vida. Essa aí mesmo, a sua, a de agora. Respire e concentre-se no essencial: a vida. A sua.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

Satisfaça-se no hoje, no presente


IX – O Eremita

O melhor momento da vida é o agora – nos diz esse senhor.

Até porque só o agora existe de fato. A vida é o fluxo de “agoras”. No passado, você já morreu. No futuro, você sequer nasceu ainda. Você só encerra existência agora, no presente.

Satisfaça-se no hoje, no presente – nos diz esse senhor.

Sim, eu sei que é desafiador isso, mas é um dos aprendizados que esse arcano nos chama a aprender: deixar os condicionamentos que nos fazem lamentar o passado, ou viver num eterno saudosismo; deixar os condicionamentos que nos prendem na ansiosa prisão futurista do: quando, ou se acontecer isso, então...

Tire o foco dessas ilusões e distrações mortas ou inascidas. Nem antes, nem depois; já, agora, hoje. Coloque o foco em você e na vida que está passando por você agora. Nem antes, nem depois; já, agora, hoje.

Precisamos de mais amor próprio

  VI – Os Enamorados Precisamos de mais amor próprio. Abrace-se.  Por quê? Porque sem amor próprio andamos em círculos, já com amor pr...